Saturday, May 17, 2008

Mais um parágrafo para o meu livro

O sotaque:

Quem nunca teve um amigo com sotaque engraçado? Agente da risada pelo simples fato de uma pessoa falar diferente da gente. Puxar mais o “r”, chiar mais no “s”, enfim são tantas diferenças que hoje em dia até estão distinguindo a língua portuguesa da brasileira. Justo, afinal é extremamente difícil para um brasileiro entender um português falando normalmente e vice-versa. Talvez daqui alguns anos os sotaques estejam tão especializados que haverá uma distinção entre dialetos falados por duas cidades vizinhas. E tudo isso ao mesmo tempo em que se discute adotar uma língua mundial.

Sotaque é algo que vem de berço, que agente não escolhe. Algo que se nunca fossemos expostos a um diferente sequer saberíamos que temos um jeito particular de falar.

Depois dessa introdução fica até chato querer ridicularizar um sotaque, mas esse até que merece. Tem o baiano que fala devagar, quase cantado. Tem aquele cara da fronteira que fala grosso e abusa das gírias. Tem o gringo que sempre coloca um “r” a mais. Mas tem u portu alegrensi qui teima qui as palavras terminadas em “e” tem soum di “i” i algumas vezes u “o” vira “u”. Nu conjuntu da obra fica uma fonética bem istranha ondi algumas regras são estabelecidas.

Por exemplu a expressãu “de noiti”. Repare que normalmenti u “e” du final das palaras tem u som di “i” mas aqui a regra muda um poucu pois u “e” di “de” não vira “i”. Difícil entender não, mas explicandu diferenti, a expressãu deveria ser dita “di noiti”. Já qui é pra assassinar us “e” que assassinemus todus.

Alias essa expressão consegue facilmente identificar um porto alegrense de um cara que tenta se passar por um porto alegrense. O cara que imita o porto alegrense, mas não é, fala “di noiti”. A primeira vez que eu reparei nisso foi ouvindo um amigo conversando com alguém no telefone e não sei porque¹ ele quis simular um sotaque porto alegrense.

Situação engraçada aconteceu também falando com um professor meu que era argentino. O cara saiu da Argentina e veio parar direto em porco alegre, ou seja, aprendeu português com o sotaque de porto alegre. Uma bela aula eu pergunto se aquele garrancho no quadro era um sete. Ele vira pra mim com uma cara de quem se questiona e diz pra mim naquele portunhol básico: “seti” ou “siete”, “sete” no existe.

Talvez seja coisa minha, mas se está escrito com “e” lê com “e”.

Junto com o sotaque aparecem as gírias. E nesse ponto tem uma toda especial que é “baia”. De noite os porto alegrense se recolhem pra baia. Eu conheço baia como aquele lugar onde se fecha o cavalo. É o que diz o dicionário inclusive. Mas a baia (do cavalo) é um lugar apertado, feito pra fechar o bicho na hora dele dormir. Ele tem um espaço mínimo pra se virar ali dentro. E só isso.

Não que eu não concorde com a gíria, afinal o que é um apartamento padrão. É uma cozinha/banheiro/quarto tudo junto num só. Quando existe alguma separação as peças são de tamanho tão pequeno que para se espreguiçar de manha cedo tem que abrir a janela da cabeceira da cama.

não sei porque¹ - na verdade eu sei porque. O que acontece aqui é aquela velha mania das gurias do interior gostarem dos caras da capital e vice-versa. Então na verdade ele tava mesmo era trovando.

2 Comments:

Blogger Rafael said...

Dá pra contar nos dedos aqueles que vieram pra Porto Alegre e mantiveram o sotaque da colônia... E eles ainda acham que têm o direito de reclamar quando eu dou risada dos "tititi".

Mas também não dá pra condenar ninguém, nem todos têm a fibra psicológica necessária pra resistir à pressão social. A ancestral necessidade de se encaixar...

12:19 PM  
Anonymous Anonymous said...

Demais!
tu me surpreende sempre e garante a risada do dia!
essa do de noiti eu já tinha notado, coisa mais estranha!
e to contigo, se é escrito com e, se fala com e!
mas mesmo assim tiram com minha cara na aula... hahaha a gente chega a acostumar já!
beijooo

11:26 AM  

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